A busca eterna pelo padrão
Por Clarice Sfair
19/09/2023
Outro dia li duas matérias que chamaram minha atenção. A primeira[1] era sobre uma lista que o Google divulga sobre as principais buscas de vários tópicos no site. Em 2022, na categoria “Como ser” encontramos em 3° lugar a busca pelas palavras: “Como ser padrão?”. A segunda matéria era sobre uma pesquisa de uma organização australiana mostrando que 38% das meninas de 4 anos estão insatisfeitas com seus corpos[2].
Essas informações não me surpreenderam, mas fiquei refletindo muito sobre elas por ser mãe de uma menina e Consultora de Estilo.
Culturalmente, as mulheres e meninas são mais incentivadas a buscar um “padrão” de beleza. Meninos e homens também sofrem com a pressão estética? Sim. Mas uma pressão bem menor que meninas e mulheres.
Um site londrino[3] criou o projeto “Perceptions Of Perfection” (Percepções da Perfeição, em português), no qual solicitou para 18 mulheres, todas designer gráficas, de 18 países diferentes, que tratassem uma imagem feminina no Photoshop para torná-la mais atraente, segundo os padrões dos seus países. O mesmo foi feito com uma imagem masculina[4] tratada por 18 designer gráficos. Parte do resultado está abaixo. Você pode conferir todas as fotos nos links no final do texto.
Nessa pequena amostra que coloquei aqui, em ambos os casos as imagens foram alteradas, tomando-as mais magras. Mas, não há tanta alteração no biotipo do homem, apenas numa hora ele é mais ou menos musculoso, noutra mais branco ou mais moreno, com mais ou menos pelos. Já o biotipo das mulheres é totalmente alterado: cintura, quadris, pernas, seios, olhos etc. Ou seja, o “padrão” de beleza masculino é mais uniforme no mundo que o feminino.
Você pode estar pensando que isso se deu só por uma questão cultural. Mas te convido a ir mais longe nessa reflexão.
Nos anos 50, a mulher que representava o padrão feminino de beleza era Marilyn Monroe, com seus 1,68 m de altura, corpo cheio de curvas, cintura marcada, seios arrebitados, cabelos cacheados e pele clarinha. No entanto, Marliyn também teve que se adequar ao padrão da sua época para alcança o estrelato[5], mudou seu nome (o original é Norma Jean), a cor do seu cabelo (era castanho), fez cirurgias no nariz e no queixo e, já perto do fim da vida, passou a injetar silicone líquido nos seios.
Nos anos 2010, a empresária e influenciadora Kim Kardashian era padrão de beleza da década, conhecida pela barriga chapada, quadris largos, glúteos avantajados, seios volumosos e cintura fina. Na década de 2020, vimos o corpo andrógino dos anos 90 voltar a moda e, em 2022, Kim Kardashian apareceu magérrima e sem suas curvas, causando rumores de que poderia ter feito algum tipo de cirurgia para modificar seu corpo ou, simplesmente, reverteu as cirurgias anteriores.
Essas duas mulheres, consideradas belíssimas e padrão, representam modelos a serem seguidos, sendo que esse “padrão” só foi possível graças a várias intervenções. Ou seja, o "padrão" é uma invenção, não é real. Veja, não sou contra cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, meu ponto aqui é se eles são feitos por desejo genuíno ou por pressão para nos adequarmos ao um padrão estético que não existe, que sempre muda para nos deixar eternamente insatisfeitas.
Como Consultora de Estilo, nos meus atendimentos, procuro ajudar minhas clientes a buscarem seu verdadeiro DESEJO DE IMAGEM e, constantemente, vejo que são atravessadas por desejos que não são delas, o que atrapalha muito a construção de um estilo autêntico e conectado com elas mesmas.
Nenhuma de nós mulheres está livre dessa pressão. Aos sete anos de idade, eu queria me desfazer dos meus cachos e ser loira. Ninguém verbalizou que o cabelo liso era mais valorizado na nossa sociedade ou que loiras eram consideradas mais bonitas e mais atraentes. Esse é um exemplo que crianças são inteligentes e entendem que as pessoas são tratadas de forma diferente por suas características físicas. Como mãe, gostaria de que minha filha não sentisse que deve alterar sua imagem para agradar alguém ou ser aceita.
Há sempre um padrão de beleza a ser seguido e ter consciência disso não nos faz necessariamente estar fora desse sistema, mas pode nos levar para um caminho de mais amor e gentiliza com nosso corpo e, quem sabe, mais felicidade.