O corpo das mulheres e as frutas

29/09/2023

Por Clarice Sfair

Como em todas as áreas, quando não temos muita experiência num assunto, procuramos um guia, uma receita. Se você já pesquisou sobre Estilo Pessoal na internet, aposto que já caiu em artigos e sites que buscam categorizar o corpo das mulheres em frutas ou formas geométricas. Ou que te ensinam como esconder um “defeito”, por exemplo: é baixinha? Tem que usar y e evitar x.  

A lógica é: primeiro você descobre a forma que seu corpo tem (ou o defeito) e depois descobre como deve se vestir para harmonizá-lo. Parte-se do princípio que existe um formato de corpo que é melhor que os outros e, se você não é uma das abençoadas que tem esse formato de corpo, você pode usar truques de ilusão de ótica para se aproximar do corpo “ideal”.

O problema que eu vejo nesse tipo de regra é que ela não leva em conta a individualidade ou o desejo de imagem das pessoas, coloca todo mundo em caixinhas. Todos perseguindo o tal do “corpo padrão” de que falamos aqui.

Antes de continuar, vamos analisar 3 pessoas públicas. 

Da esquerda para direita: Miroslava Duma, Fernenda Lima e Musemo Handahu

O que você reparou nas fotos da empresária de moda Miroslava Duma? Aposto que a primeira coisa que NÃO veio a sua cabeça foi o “pecado mortal” de ser baixinha (ela tem 1,50 m de altura) e estar usando patacourt e sandálias de tiras que “cortam” sua silhueta e evidenciam sua baixa estatura. Pelas caixinhas, Miroslava Duma deveria usar roupas que alongassem seu corpo, de forma a dar a ilusão de ser mais alta.

Olhe para foto da modelo e apresentadora Fernanda Lima. Qual a primeira coisa que te chama a atenção? Certamente NÃO foi o “desequilíbrio” entre os ombros e o quadril. Pelas tais regrinhas, Fernanda tem um corpo “triângulo invertido”, ou seja, parte superior do corpo tem mais peso visual que a parte inferior, logo a roupa da foto é PROIBIDA, pois realça sua desarmonia corporal.

E o que falar da escritora e produtora de conteúdo Musemo Handahu? Certamente sua audácia foi a maior de todas: estampas, cintura marcada, volume frontal e alças finas, tudo o que um corpo “oval” não pode usar.

Então essas regrinhas não funcionam? Em parte sim, pois elas são capazes de provocar certa mudança na nossa percepção da silhueta, porém são limitadas, pois se baseiam numa perspectiva bidimensional e estática. Nosso corpo é tridimensional e se move, logo não é porque você escolheu um look monocromático que automaticamente ganhou alguns centímetros, ou que cobriu seus braços e eles ficaram mais finos. Porém, mais importante de tudo é que eles colocam a carroça na frente dos bois, entende? Pois limitam como queremos nos expressar através das roupas.

Miroslava Duma não deixa sua altura ser um empecilho para se expressar através da moda. Assim, como Fernanda Lima, frequentemente usa roupas que realçam seus ombros, o que contribui para seu estilo power sexy. Já Musemo Handahu usa as roupas para deixar claro o quanto é criativa.

Como abordo esse assunto com minhas clientes? Parto do princípio de que, antes de tudo, é necessário OUVIR a cliente. Pois acredito que o ponto de partida do estilo é a própria cliente. Ela vem antes de qualquer regra, é a partir dos seus desejos e necessidade que desenhamos sua narrativa visual. Se durante essa escuta atenta, minha cliente expressar o desejo de “harmonizar” ou “disfarçar” algo, atenderei seu pedido, pois quem sou eu para palpitar no corpo e desejo da minha cliente ou de qualquer mulher? Mas nesse caso, os bois estão na frente da carroça, entende?

Jamais vou IMPOR uma regra, pois se fosse assim, ela nem precisaria dos meus serviços. Bastaria pesquisar na internet tais regras e aplicá-las sozinha.

A relação entre corpo x vestir é complexa, tais regrinhas simplistas não dão conta de resolver o estilo de ninguém.

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